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segunda-feira, 23 de junho de 2008

Pesquisa sobre movimentos chega a resultados cotraditórios

O jornal /O Globo/ divulgou reportagem de Soraya Aggege, no domingo(15/06), com o resultado de pesquisa de opinião sobre os movimentossociais do campo - MST, Via Campesina, MAB (Movimentos dos Atingidos porBarragens), movimentos de quilombolas e CPT (Comissão Pastoral da Terra). A pesquisa realizada pelo Ibope foi encomendada pela empresa mineradoraVale, que é alvo de protestos dos movimentos sociais, em função dosimpactos sociais negativos causados causados por sua atuação nos estadosde Minas Gerais, Pará, Maranhão e Rio de Janeiro. A pesquisa aponta que 46% são favoráveis ao MST, enquanto 50% sãodesfavoráveis. Entre as palavras que descrevem o MST, 27% é ?coragem?,24%, Reforma Agrária; 21%, organização da sociedade; e 21%, justiça e21%, igualdade social. 65% dos entrevistados manifestaram afinidade como MST, embora 31% tenham declarado não concordar com o Movimento. Aomesmo tempo, 45% dos pesquisados associam MST à violência, 61% aprejuízos à economia e 28% não concordam com seus objetivos. Mas além disso, a pesquisa mostra que 40% acreditam que os fazendeirosnão aceitam negociação com os Sem Terra e reajem às ocupações utilizandométodos próprios (com a ação de jagunços, pistoleiros e outros), semamparo judicial. Dos entrevistados pela pesquisa, 90% afirmam receber informações sobreos movimentos sociais por meio da televisão, outros 34% pelos jornais;24% por rádio; 18% pela internet; 8% por revista. "*A pesquisa demonstra apoio da sociedade e do povo brasileiro ao MST,com 46% de aprovação à nossa luta. No entanto, a pesquisa apresentaresultados contraditórios, que atestam o bombardeio de notícias ecaracterizações distorcidas dos movimentos sociais pela mídia. Logo, apesquisa serve muito mais para condenar a mídia pela cobertura limitadae parcial do que a atuação dos movimentos sociais do nosso país", afirmanota do MST.*As entrevistas com 2.100 pessoas maiores de 16 anos, em metrópoles,cidades e regiões do interior de vários estados, foram feitas entre 26de abril e 6 de maio deste ano. "A pesquisa acaba por revelar um nível elevado de afinidade efavorabilidade da população para com os movimentos sociais ainda maisrelevantes quando se consideram as circunstâncias desfavoráveis que têmpara se fazerem conhecidos", analisa o professor Carlos WalterPorto-Gonçalves, doutor em geografia pela UFRJ (Universidade Federal doRio de Janeiro) é professor da pós-graduação da UFF (UniversidadeFederal Fluminense). *A seguir, leia na íntegra a análise do professor Carlos WalterPorto-Gonçalves sobre a pesquisa:* "A pesquisa Ibope para a empresa Vale do Rio Doce deve ser entendida nocontexto político em que foi feita. A própria pesquisa faz parte daslutas sociais em que está inserida e tem o objetivo de fornecerinformações para que o setor empresarial, no caso representado pelaVale, estabeleça estratégias políticas em face do crescimento dosmovimentos sociais no país. Nesse sentido, a pesquisa parece se justificar posto que "81% dosentrevistados acham que os movimentos sociais estão se espalhando nopaís" e "69% acham que estão ganhando força" (Pesquisa Ibope/Vale). Porse tratar de uma pesquisa não sobre os movimentos sociais, mas sim sobreo conhecimento que a população tem sobre os movimentos sociais, aanálise dos seus resultados carece de uma investigação mais criteriosasobre qual a fonte de informação que os entrevistados têm sobre osmovimentos sociais. À exceção do MST, que "22% da população conhece bem e 75% conhecepouco", a opinião sobre os demais movimentos sociais pesquisados diz que"79% nunca ouviram falar da Via Campesina" e "83% nunca ouviram falar daCPT - Comissão Pastoral da Terra". Tudo indica que a fonte de informação dos entrevistados não são ospróprios movimentos sociais, mas sim os grandes meios de comunicação.Esses meios aparecem com grande destaque entre as instituições de maisconfiança entre os entrevistados: nas metrópoles, é a 2ª instituição demaior confiança (67%), perdendo para as Forças Armadas (68%) e, nointerior, só é a 1ª no interior de Minas Gerais (82%); em Imperatriz(MA) os meios de comunicação perdem para a Igreja Católica (80%), paraas Forças Armadas (78%) e para as Igrejas Evangélicas (77%) e, emCricaré (CE) perde para a Igreja Católica (84%). Sendo os meios de comunicação a maior fonte de informação dosentrevistados sobre os movimentos sociais, é interessante saber que 65%dos entrevistados tenham manifestado Afinidade com o MST e 53% com osQuilombolas, ainda que 31% tenham declarado não concordar com o MST e34% com os Quilombolas. Dentre os entrevistados 46% se declararam favoráveis ao MST e 60% aoMovimento de Atingidos por Barragens - MAB. Esses dados sãointeressantes na medida em que o conhecimento que os entrevistados têmsobre os movimentos não tem como fonte os próprios movimentos sociais. Aliás, a pesquisa acaba por revelar dados preocupantes sobre a coberturade nossa imprensa com relação aos movimentos sociais, haja vista quemesmo sobre o MST, de longe o movimento mais conhecido, 75% dosentrevistados declararam "conhecer pouco".
Considerando-se que os movimentos sociais cumprem um papel importante de canalização dedemandas sociais não institucionalizadas, esses dados nos dizem muito docaráter extremamente oficial da cobertura da imprensa onde, quasesempre, os movimentos sociais ou são olvidados ou são apresentados demodo desqualificado e como ameaça à ordem social, muitas vezesdesrespeitando a boa norma jornalística de ouvir o outro lado. O MST tem sido o mais visado e a pesquisa capta esse imaginário quandoos entrevistados associam esse movimento à palavra Violência, a maisdestacada com 45%, à palavra Manipulação, com 24%, a Radicalismo com 20%e com Ilegalidade, também com 19%. Todavia, registre-se que osentrevistados associam o MST a palavras positivas como: Coragem 27%;Reforma Agrária 24%; Organização 21%; Justiça 21%; Igualdade Social 21%e Liderança com 21%.
Sendo assim, a pesquisa acaba por revelar um nívelelevado de afinidade e favorabilidade da população para com osmovimentos sociais ainda mais relevantes quando se consideram ascircunstâncias desfavoráveis que têm para se fazerem conhecidos".

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