Por Carla Seixas
O período eleitoral vem carregado não só de disputa por voto, mas também pela “briga” por uma vaga no agora amplo mercado de trabalho gerado pelos políticos. É, sem dúvida, uma fase onde a oportunidade de ocupação - muitas vezes tão prometida nos comícios e caminhadas - realmente acontece. As vagas não são, para a maioria, de grandes remunerações. Mas auxiliam, sim, muitas famílias a saírem do sufoco, mesmo que seja apenas enquanto duram as promessas eleitorais. Os comitês - a maioria ainda em fase de organização - concentram grande fluxo de pessoas atrás de uma oportunidade. Na crença de muitos dos que prestam serviço informal a cada dois anos está a possibilidade de contratação em algum órgão público, caso o candidato-patrão seja eleito e chegue ao poder.
É o caso de Jorge Henrique da Silva Barbosa, 23 anos, que hoje trabalha segurando bandeira durante seis horas por dia, para o postulante do PT à Prefeitura do Recife, João da Costa, mas alimenta a esperança de, depois da disputa pelos votos, tendo o seu candidato conquistado a vitória, conseguir com ele uma colocação com carteira assinada. “Recebo em torno de R$ 190 por quinzena. Já estava há quatro meses sem emprego”, diz. Uma das coordenadoras da campanha petista, Ada Siqueira alega que a parte interna do comitê e produção da campanha já emprega cerca de 40 pessoas, entre digitadores, motoristas e auxiliares de escritórios. “As remunerações variam de acordo com a função”, diz.
O coordenador da campanha do deputado peemedebista Raul Henry à Prefeitura do Recife, Marcos Batista, alega que apenas com a inauguração do comitê é que as pessoas serão efetivamente contratadas. “Só a parte de comunicação deve comportar cerca de 30 pessoas. As outras vagas, como para panfletagem, motoristas, distribuidores de cavaletes virão mais fortemente em seguida. A remuneração média para esse pessoal é de um salário mínimo (R$ 415)”. O teto previsto para os gastos da campanha de Raul é de R$ 3,7 milhões, dos quais 20% devem bancar as contratações feitas. Carlos Alberto Alves, 29 anos, é um dos que já conseguiram ocupação nesta época do ano. “Saio diariamente por volta das 7h para fazer a distribuição dos cavaletes. Também sou responsável pela fiscalização desse material”, diz ele que, pela primeira vez, atua como temporário de eleição com o candidato Raul Henry por R$ 415.
Foi também na esteira da corrida eleitoral que Rosinaldo Francisco dos Santos, 33 anos, dos quais os dois últimos desempregado, conseguiu uma ocupação. Ele é motorista da equipe do candidato do PSC, Carlos Eduardo Cadoca, cargo que conseguiu pela segunda vez. “Trabalhei no grupo da eleição de 2004. A carga horária é de sete, oito horas por dia, com salário entre R$ 600 e R$ 800 por mês. Vinha trabalhando fazendo alguns bicos, mas a eleição é um período muito bom para mim. O mercado de trabalho está muito difícil, mesmo a gente tentando se qualificar”, diz ele, que hoje tem nessa fonte de renda o apoio para cuidar de dois filhos. O crescimento dentro do quadro nas equipes também é possível e almejado por boa parte dos contratados. “Já carreguei bandeira e hoje trabalho dentro do comitê. Foi um reconhecimento do meu trabalho”, diz o Sérgio Gomes da Silva, 32 anos, que também trabalha para Cadoca. João Paulo dos Santos Coelho, 22 anos, atua pela primeira vez na função de carregador de bandeira por R$ 25 por dia. “Desde os 20 anos que procuro emprego. Não consegui nenhum com carteira assinada até agora. O dinheiro que estou recebendo aqui ajuda muito”, reforça ele, hoje responsável por expor a imagem do candidato do DEM, Mendonça Filho, segurando bandeira nas vias da cidade. Para a professora particular de espanhol Bárbara dos Santos, 25 anos, segurar bandeira no período eleitoral foi uma saída para se contrapor às férias escolares quando o movimento dos alunos cai. “É a primeira vez que trabalho. É uma ajuda”, diz ela que é contratada pelo candidato Mendonça Filho. A equipe democrata estima contratar 100 pessoas e gastar com serviços terceirizados de publicidade cerca de R$ 1,1 milhão.
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