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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Maioria dos brasileiros não acreditam que as eleições são limpas - Por que será ?

Por Raphael Bruno do Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Mais da metade do eleitorado brasileiro não confia nos resultados das eleições nem acredita que elas sejam “limpas” e isentas de fraudes. A desconfiança do eleitorado não pára por ai. Um em cada cinco votantes acha que os políticos têm meios de ficar sabendo em qual candidato cada eleitor votou.

Os dados fazem parte de pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi a pedido da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), divulgada nesta terça-feira em Brasília. A idéia, segundo o presidente da AMB, Mozart Valadares, foi “mostrar o perfil do eleitorado brasileiro com o objetivo de fortalecer a cidadania e a democracia brasileira”. Para o levantamento, realizado entre os dias 27 de junho e 6 de julho, foram entrevistados 1.502 eleitores em todas as regiões do país sobre questões relacionadas à percepção que os eleitores têm dos políticos, da corrupção, do sistema eleitoral e dos critérios utilizados na hora de escolher candidatos.

Contradições

Os resultados obtidos pela pesquisa apontam para uma série de contradições no perfil do eleitorado brasileiro. Por exemplo: apesar de 52% dos entrevistados responderem que discordam ou discordam totalmente da afirmação de que “as eleições no Brasil são feitas de maneira limpa, sem fraudes e têm resultados confiáveis”, 68% ainda acreditam que “o voto em um candidato pode mudar muito” a vida do eleitor, “tanto para melhor quanto para pior”.

O dado, segundo o juiz Paulo Henrique Machado, secretário-geral da AMB e coordenador da pesquisa, só reforça a necessidade de campanhas como a que a própria entidade, juntamente com o Tribunal Superior Eleitoral, vem promovendo para mostrar ao eleitor que o voto é livre e a urna eletrônica inviolável, e que todo caso de abuso de poder ou de fraude eleitoral deve ser denunciado.

A revelação de que 20% dos eleitores – um em cada cinco – acreditam na possibilidade de que o conteúdo do voto eletrônico seja descoberto por candidatos surge paralelamente com a crescente preocupação da Justiça Eleitoral com o discurso de que grupos ligados ao narcotráfico e às milícias no Rio de Janeiro teriam acesso aos votos de moradores das localidades controladas por esses grupos e de que haveria represálias caso os eleitores não votassem de acordo com a orientação dada.

Para o presidente da AMB, Mozart Valadares, contudo, a maior parte dos entrevistados que declararam não confiar nos resultados das eleições se basearam mais em uma percepção geral de que o processo eleitoral sofre muitas influências do poder econômico e do abuso da máquina administrativa do que necessariamente no receio de que o conteúdo do voto é violável. O jurista chegou a comentar que, caso a iniciativa da AMB que permitia aos juízes eleitorais negar registros de candidaturas de políticos que respondam a processos judiciais como réus tivesse sido aprovada no Supremo Tribunal Federal, com “certeza absoluta” essa percepção cética do eleitor no que diz respeito à “limpeza” do processo eleitoral iria melhorar no longo prazo.

Salta aos olhos também o fato de que, apesar de 82% dos eleitores concordarem ou concordarem totalmente com a afirmativa de que “a maioria dos políticos eleitos não cumpre as promessas que faz durante a campanha”, quando questionados sobre quais critérios são utilizados na escolha do candidato, 84% apontaram como importante ou muito importante “as propostas de trabalho de cada candidato”

– Na hora de escolher o candidato, o eleitor vê como importante critério saber as propostas de cada candidato – explica Paulo Machado. – Mas o eleitor não está enxergando nos eleitos o cumprimentos dessas propostas.

Para o presidente da entidade, Mozart Valadares, o que levaria os eleitores a continuar votando de acordo com as promessas de candidatos embora os próprios eleitores reconheçam que eles não as cumprem é a “esperança” e a “fé”.

– A fé do povo brasileiro de que isso vai melhorar é o que o motiva a participar do processo eleitoral – diz o jurista. – Se ele vota na proposta de um candidato e ele não a cumpre, não é isso que vai fazer com que deixe de votar na próxima eleição. Ele vai considerar outros candidatos.

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