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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Lula pede na UNE culto aos heróis


Por Paulo Marcio Vaz e Karla Correia do Jornal do Brasil

RIO - Se a questão a respeito de uma possível punição a torturadores da ditadura foi liquidada na segunda-feira – depois de uma conversa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro da Justiça, Tarso Genro – o enterro do assunto foi ontem, no Rio, onde Lula esteve junto a ministros e estudantes para assinar a proposta de reconstrução do prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE), na Praia do Flamengo, destruído em 1964, no primeiro dia do golpe militar.

Junto à comitiva presidencial, um estranho no ninho: o governador de São Paulo, José Serra, ex-presidente da UNE na época da ditadura. Vaiado por grande parte do público, Serra não se constrangeu e pediu calma: “Ainda não estamos em 2010”, disse logo no início de seu discurso. Ao contrário de Lula, que, assim como da última vez em que esteve no Rio, não falou com a imprensa, Serra se pronunciou rapidamente sobre a polêmica a respeito dos torturadores:

– Não acho que é o momento adequado para este tipo de debate. – afirmou. – Mas, em todo caso, tem um sistema judiciário que deve interpretar a lei. É o judiciário que tem que resolver. Não é uma tarefa do Executivo.

A única menção de Lula aos crimes cometidos na época da ditadura foi feita durante seu discurso, em forma de sugestão à UNE, para que no novo prédio a ser construído – o antigo foi incendiado pelo governo militar – haja um memorial em homenagem aos estudantes mortos durante o regime.

– Precisamos tratar um pouco melhor os nossos mortos. Toda vez que falamos dos estudantes e operários que morreram, falamos xingando alguém que os matou. Este martírio nunca vai acabar se a gente não aprender a transformar os nossos mortos em heróis – disse Lula. – O Brasil é um país que não tem heróis. Quando perguntam, a gente só lembra de Tiradentes.

Em documento assinado ontem por Lula, o Estado reconhece sua responsabilidade pela destruição da sede da UNE, em 1964, e define uma indenização à entidade, por meio de um projeto de lei. A proposta prevê a reconstrução do prédio, cujo projeto, assinado por Oscar Niemeyer, já está pronto.

Na ocasião, também foi lançada a Caravana UNE, que percorrerá, de ônibus, 41 universidades brasileiras com uma equipe de univesitários aptos a discutir temas como saúde, educação e cultura.

Lula também falou sobre a presença de Serra no palanque, junto ao governador do Rio, Sérgio Cabral, e alguns ministros, entre eles, Fernando Haddad (Educação), José Gomes temporão (Saúde) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência):

– O fato de Serra estar aqui junto comigo, junto a Sérgio Cabral e com a UNE e a Ubes, da forma mais civilizada possível, é porque somos amigos antes de tudo. Somos adversários quando há disputa política, mas somos amigos na construção da democracia neste país...

Militares “encerram” assunto.

Mais cedo, em cerimônia de apresentação dos novos oficiais-generais, no Palácio do Planalto, a ordem dentro do governo foi de manter o silêncio sobre a polêmica em torno da Lei de Anistia. O presidente Lula deixou o discurso a cargo do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que evitou qualquer referência ao assunto. Os três comandantes das Forças Armadas deram a questão por “encerrada”.

– Estamos seguindo o caminho orientado pelo presidente da República que declarou ontem que não é um assunto para ser tratado pelo Executivo – resumiu o comandante da Marinha, almirante Moura Neto.

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