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sábado, 21 de junho de 2008

Sobre Encontro latino-americano e caribenho (ELAC) convocado pela Conlutas





Lançar confusão para plantar a divisão!




A Conlutas convoca em 7 e 8 de julho deste ano um Encontro latino-americano e caribenho de trabalhadores (ELAC), cujo objetivo, segundo a convocatória, é adotar "uma plataforma comum de ação e definir um plano de lutas comum e que permita avançar na constituição de uma coordenação latino-americana e caribenha de lutas".Logo, criar uma "Conlutas ampliada" a outros países da região. No jornal do grupo boliviano da LIT (organização da qual participa o PSTU), "Lucha Socialista" nº 8 (maio de 2008), está escrito que o ELAC "é convocado por 5 centrais sindicais". Na realidade, além da Conlutas, assinam a convocatória a direção da COB da Bolívia, que de fato é uma central, a Tendência Classista e Combativa (TCC), que intervém no PIT-CNT do Uruguai; "Bataye Ouvriye" do Haiti, que se define como agrupamento dos que "lutam pela construção de um movimento sindical autônomo, combativo e democrático", tendo-se somado depois a C-CURA, uma das correntes da UNT da Venezuela. A primeira questão que salta aos olhos na convocatória do ELAC é que para enfrentar os "dias dramáticos" que vive o continente e passar da "resistência" à "ofensiva e derrotar o imperialismo e seus lacaios encastelados nos governos de turno", ela diz ser "necessária a unidade dos trabalhadores e dos povos da América Latina e Caribe". Não há qualquer menção à luta dos trabalhadores, do movimento negro e da juventude nos Estados Unidos, ou ao Canadá. É o velho "terceiro-mundismo" , que ergue uma barreira entre os trabalhadores do continente! Já a fórmula "derrotar o imperialismo e seus lacaios encastelados nos governos de turno", coloca em pé de igualdade, como inimigos a serem derrotados, todos os governos da região. Assim: Uribe da Colômbia, que a serviço de Bush invadiu o Equador, fica igual ao presidente deste país, Rafael Correa; Alan Garcia do Peru, Bachelet do Chile, Lula, Kirchner da Argentina, Tabaré do Uruguai, Hugo Chávez da Venezuela e Evo Morales da Bolívia, todos iguais, todos teriam as mesmas relações com o imperialismo, seus Tratados de Livre Comércio e sua política de privatizações? Num momento em que o imperialismo dos EUA desenvolve uma ofensiva brutal para destruir as nações, usando a arma do separatismo, de imediato na Bolívia, mas visando também Equador e Venezuela, não há uma só palavra na convocatória e na plataforma do ELAC em defesa da unidade das nações! Num momento em que o imperialismo tudo faz para derrubar os governos Chávez, Correa e Evo, que adotam medidas, ainda que limitadas, na via da soberania nacional, como as nacionalizações, e que, por isso mesmo, se chocam com as exigências de Washington, de que lado está a Conlutas, que convoca o ELAC? O PSTU (força hegemônica na Conlutas*), comemorou a vitória do Não no referendo constitucional do final de 2007 na Venezuela como sendo uma "vitória dos trabalhadores" , ironicamente, ao mesmo tempo em que a oposição pró-imperialista, os empresários e a embaixada dos EUA também festejavam. E agora, quando Chávez, sob pressão de greves e mobilizações do movimento operário, nacionaliza a Sidor (maior siderúrgica do país), ele segue sendo igual aos "lacaios do imperialismo" ? É uma política oposta à necessária unidade de ação contra o imperialismo que, sem abrir mão de um milímetro da independência política dos trabalhadores e suas organizações, permite golpear juntos o inimigo comum, no caso a política do governo dos EUA e seus aliados locais. Na convocatória do ELAC encontramos também a base da política de divisão proposta pela Conlutas: "Há outro obstáculo que temos que enfrentar: o fato que muitas organizações tradicionais dos trabalhadores da região abandonaram a perspectiva de luta de classe e abraçaram o modelo neoliberal, colaborando com os inimigos e abandonando os trabalhadores e povos à sua própria sorte".Assim se confundem as direções das organizações com as próprias organizações. Para eles, o "obstáculo" estaria nas "organizações tradicionais" , e não na eventual política de suas direções. Foi o que levou o PSTU e outros grupos a romperem com a CUT no Brasil. É uma clara política de divisão das organizações construídas pelos trabalhadores - num momento em que elas são ameaçadas de destruição pelo imperialismo – virando as costas aos milhões que nelas se organizam, em nome da denúncia das "direções traidoras". Na verdade, é uma deserção do combate para dotar as organizações de direções mais acordes com os interesses imediatos e históricos dos trabalhadores. Em congressos e assembléias sindicais no Brasil, os partidários da Conlutas defendem romper com a CUT para construir "a unidade da esquerda que se encontra em oposição ao governo", o que na prática, significa propor a ruptura com todos os trabalhadores que não estejam "em oposição ao governo" Lula. Se aplicarmos este método a outros países, qual seria a conseqüência? Na Bolívia, a COB é a "organização tradicional" da classe trabalhadora. Às vésperas das heróicas lutas de outubro de 2003 que derrubaram o governo Goni, abrindo a situação que coloca a nacionalização do petróleo, do gás e das minas na ordem do dia, a COB era dirigida por um setor ligado ao governo da direita. Foi a força das lutas de massa que levou a mudanças na sua direção. E, seja qual foi a opinião que cada um tenha da atual direção da COB, nada justificaria dividi-la, nem ontem e nem hoje. Ou, para a Conlutas, a COB deveria expulsar de suas fileiras quem não for "oposição" ao governo Evo Morales? Isso seria "paralelismo" e divisão da própria COB, que deve unir os trabalhadores num terreno independente, seja qual for sua opinião sobre o governo Evo ou o seu partido MAS. Agora mesmo, Evo convoca referendos revogatórios de seu mandato e dos prefeitos separatistas (que aplicam a política do imperialismo de destruir a Bolívia para barrar o processo revolucionário) . É indiferente que ganhe um ou outro lado? Evo é igual à oligarquia separatista? Isso quando se impõe que a COB e todas as organizações do movimento operário e popular – como já fez a Confederação dos Trabalhadores Fabris – sem abrir mão nem de suas reivindicações e nem de sua independência, mobilizem pelo voto Sim a favor de Evo e pelo Não aos prefeitos separatistas e pró-imperialistas. Não há meio termo possível! Ao lado de sindicalistas e militantes vindos de todas as partes das Américas, inclusive dos EUA, tive a oportunidade de participar, como delegado da CUT junto com o companheiro Spis, do 2º Encontro Continental de Trabalhadores (o 1º foi em La Paz, em agosto de 2005) contra os Tratados de Livre Comércio e as Privatizações, realizado na Cidade do México entre 4 e 6 de abril deste ano. Convocados por organizações do México e de outros países, com o apoio do Acordo Internacional dos Trabalhadores (AcIT), 300 delegados, num livre debate, fixaram uma plataforma de luta que - partindo da defesa das organizações construídas pelos trabalhadores e da defesa da unidade e soberania das nações contra o imperialismo – inclui, entre outros pontos, a defesa da Pemex (estatal do petróleo no México), a defesa das medidas de nacionalização adotadas pelos governos da Bolívia e Venezuela, a condenação da invasão da Colômbia ao Equador, a solidariedade ativa com o movimento contra a guerra no Iraque, a luta do movimento negro e dos imigrantes nos EUA, a exigência dirigida a Lula de posicionamento diante de crimes cometidos pelas tropas da ONU no Haiti; a luta pela recuperação da Vale para a nação brasileira e contra os leilões do petróleo em nosso país. Esta sim é uma contribuição positiva para a unidade na luta concreta dos trabalhadores e povos contra o imperialismo, e não uma operação de divisão, como se apresenta o ELAC.

30 de maio de 2008
Julio Turra,
Diretor executivo da CUT Nacional

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