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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Profissão política


 

O Brasil é um país de muitos ditados e chavões (provavelmente este seja mais um deles) e a grande frase feita do momento é “os políticos são todos bandidos”. Todos querem que seus filhos sejam médicos, advogados ou militares, mas se de repente na rebeldia adolescente ele começa a militar no grêmio de seu colégio os pais logo torcem a cara e exclamam a plenos pulmões: não quero filho comunista e maconheiro (nunca entendi muito bem essa associação automática que as pessoas fazem entre ser de esquerda e fumar maconha).

 

Por sorte sou de uma família atípica, todos são políticos, envolvidos direta ou indiretamente com política, portanto não tive problemas em me dedicar à militância político-partidária. Lembro-me da campanha de 1989 (tinha apenas 8 anos) quando andava de cima para baixo com a bandeira do Lula. Aos 13 anos fui ao meu primeiro congresso estudantil. Tirei o título de eleitor assim que fiz 16 e aos 17 me filiei ao Partido Socialista Brasileiro por livre e espontânea vontade e em total liberdade de consciência.

 

Dentro de casa sempre tive o exemplo de que a política existe para mudar a vidas das pessoas. A boa política, que aplica Políticas Públicas sérias, modifica pra melhor. A má política, das trocas de favores e beneficiamentos, modifica para pior. Fiz a clara opção de trabalhar para mudar a realidade social de nosso país, alinhando-me assim à boa política. Lembro-me das discussões socialistas entre eu e Biel. Eu sempre mais ponderado e ele radical, revolucionário, a ponto de incorporar o “Hasta la victória siempre” à sua assinatura. E foi nesse clima que crescemos, debatendo política. Nas reuniões de família tanto dos Luna quanto dos Andrade o prato do dia é política, na certa.

 

Já estou há tanto tempo nisso que não me assusta mais a reação das pessoas à minha resposta sobre com o que eu trabalho. Política? Como assim? Você parece ser uma pessoa tão séria. E é aí que começa o trabalho de “evangelização” para quebrar esse estigma que as pessoas (induzidas pela grande mídia e por exemplos de alguns “colegas”) põem sobre a política e seus executivos. Eu poderia ser bancário? Sim, poderia. Poderia ser militar? Sim, também. Mas cada um nasce com aptidão, vocação e afinidade com determinada carreira, eu nasci com política correndo em minhas veias.

 

         Não tenho pretensões eleitorais. Para mim basta estar perto. Contribuir. Colaborar. Intervir. Cobrar. E dar o meu melhor para mudar a vida dos outros. Às vezes uso da pequena influência que tenho para ajudar as pessoas (reparo de um vazamento, troca de uma lâmpada no poste etc), mas sou incapaz de pedir o favor de volta (até porque não foi um favor). Muito menos sou incapaz de deixar de fazer algo porque a área é de fulano ou beltrano.

 

E acreditem. Assim como eu há muitos outros executivos da política. Pessoas que muitas vezes abrem mão de estarem com a família, de beberem uma cerveja com os amigos e de baterem aquela pelada dos finais de semana, para se dedicarem a uma causa maior, a coletividade, a sociedade.

 

As pessoas podem não acreditar mais vivemos dignamente com nossos salários. Moramos de aluguel. Compramos carro popular em 60 vezes (no meu caso ando de transporte público). Fazemos carnê nas Casas qualquer coisa. E o pior, nossas contas no banco só vivem no cheque especial. Muitos inclusive têm outras ocupações para ajudar no orçamento.

 

Portanto, nada mais injusto do que generalizar. Sabemos que tem muitos que vêem na política uma forma de se dar. Mas esses não são políticos. Estão usando a política. Quantos não viram advogados para dar golpes nos incautos. E quantos viram policiais só para poder achacar “oficialmente”. E nem por isso a advocacia ou o a polícia deixam de ser dignas. Tudo vai da índole, da intenção. Esses que se aproveitam da política geralmente continuam com suas safadezas mesmo longe dela porque já as fazia antes de pensar em entrar na vida pública. E exemplos não faltam. Ninguém se corrompe do dia para a noite. Basta que se faça um breve exame na vida pregressa para saber quem é quem e para que banda ele tenderá.

 

O que precisa ser entendido é que não vivemos num estado despótico, logo do presidente da república ao vereador de Borá – SP (o município com o menor número de habitantes/eleitores no Brasil) todos são eleitos pelo voto direto do povo.  Mesmo que tenhamos críticas a forma como nossos “representantes” são eleitos a poliarquia brasileira se mostra menos ruim do que os 21 anos de autoritarismo. O maior dos problemas é que as pessoas na sua maioria não se preocupam em conhecer em quem estão votando, menos ainda se importam em cobrar as promessas de campanha. Participação política não é só votar a cada dois anos. É mais que isso. Mas é também lembrar em quem se votou.

 

Assim sendo, chega de jogar a culpa na pobre política ou nos políticos (alguns nem tão pobres assim). Chame para si a responsabilidade de fazer diferente. Nosso Congresso é apenas um retrato em cores vivas das entranhas da sociedade. Que não são tão bonitas nem ao menos cheirosas. Se um parlamentar te oferecesse uma passagem de ida e volta ao Nordeste ou à Miami o que você diria? Já se perguntou quantas vezes já fez uso do nosso tão famoso jeitinho? 

 

Não podemos cair na esparrela de crer que a política e os políticos são dispensáveis e inúteis. Se não for pela política será como? Terceiro setor? Só tem esse nome por estética porque nada é tão atrelado e dependente das benesses políticas do estado quanto ele. E o mercado? Muito menos. Em tempos de crise econômica global o que seria dele sem a política?

 

Para finalizar, afirmo e reafirmo. Sou político sim. Por vocação, aptidão e paixão. Não tenho vergonha dos que fazem mau uso da política pelo simples fato de não me julgar como eles, nem os julgo políticos. Na verdade a eles devoto minha revolta e meu desapreço, pena que infelizmente não possa simplesmente devota-los meu desprezo.  

 

Em tempo, vale deixar um pequeno texto para reflexão geral.

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

(Analfabeto Político - Bertold Brecht)

 

 

Livio de Andrade Luna da Silva

Bacharel em Relações Internacionais

Militante Político

 Filiado ao PSB desde 09/02/1999

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