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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Juventude e a necessidade de organização no campo e na cidade



 
Quando pensamos nos problemas enfrentados pela juventude no campo, vemos que as mesmas dificuldades atingem esta geração de modo geral. Apesar das diferenças existentes entre a realidade do campo e a da cidade, não podemos perder de vista que todos nós sofremos os impactos de um modelo capitalista e excludente. 
O avanço das políticas neoliberais e da reestruturação produtiva, que geram, entre outras conseqüências, o desemprego e precárias relações de trabalho, é mundial, mas atinge em menor escala os países centrais do capital, que ainda contam com a influência das conquistas das políticas do Estado do Bem Estar Social. 
O número de desempregados em todo o mundo é enorme. No Brasil, estima-se que o desemprego afeta 24% da população economicamente ativa. Destes, 50% são jovens com até 24 anos de idade. Multiplicam- se as formas de ocupação (subempregos), já que o aumento avassalador das forças produtivas não se reflete na melhoria da vida das pessoas. Em vez da redução do tempo de trabalho alienado, vemos a superexploração da classe trabalhadora e, portanto, aumento da desigualdade. 
No Brasil atualmente são aproximadamente 50 milhões de brasileiros jovens na faixa etária de 15 a 24 anos 
Desses 50 milhões apenas 6 milhões vivem no campo. Cerca de 2 milhões vivem em situação de extrema pobreza. O nível de escolarização é muito baixo e calcula-se que 65% das pessoas que vivem no campo possuem até quatro anos de estudo. 
As poucas políticas e programas desenvolvidos pelas instituições dividem-se em 2 blocos: no primeiro bloco se enquadram os programas de ressocialização, no segundo bloco são evidenciados os programas de capacitação profissional. É importante salientar que esses programas são falhos, pois passam longe de atender de forma ampla e aprofundada a realidade juvenil. 
Esses indicadores alarmantes e a falta de uma política de incentivo à permanência do jovem na terra contribuem para agravar o quadro no ambiente rural, a ação do governo focaliza, principalmente, o financiamento da produção do agronegócio, um modelo que privatiza os recursos naturais, concentra território, e ainda expulsa a população mais pobre. 
Apesar de ser a principal geradora de renda e emprego e produtora de alimentos saudáveis para a população, a agricultura familiar é considerada atrasada. 
A opção do governo pelo agronegócio como modelo de desenvolvimento para o campo no Brasil limita as possibilidades de geração de novos postos de trabalho, visto que este modelo demanda pouca mão-de-obra. São as pequenas propriedades que mais empregam: elas são responsáveis por 80% dos postos de trabalhos e 60% do que é produzido no campo. 
A situação atual da classe trabalhadora piora o quadro. O número de desempregados atinge recorde. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), já fala em aproximadamente 1 bilhão e 200 mil pessoas sem trabalho formal no mundo, número que deve se multiplicar com o colapso que vem sofrendo a economia mundial. Mesmo os empregados veem seus direitos, conquistados por anos de luta, serem reduzidos sob o pretexto da flexibilização necessária para a liberalização dos mercados. 
Fala-se muito em formação de capital humano para resolver o problema do desemprego. É comum atribuir à dificuldade dos jovens de ingressar no mundo do trabalho a uma suposta falta de qualificação. Este argumento transfere a responsabilidade para o próprio jovem, deslocando a atenção sobre o verdadeiro culpado. 
As forças produtivas sob o domínio do capitalismo não se desenvolvem visando a libertação do trabalhador, mas sim no intuito de ampliar as possibilidades de extração de subemprego e, conseqüentemente, do lucro. Apesar do aumento do desemprego, não podemos afirmar, como fazem alguns, que o trabalho ruma para a extinção. Pelo contrário, observamos o crescimento da ocupação precária e da superexploração da classe trabalhadora. 
Outro problema enfrentado pela juventude da classe trabalhadora brasileira é o descenso atual do movimento de massa. 
Pensar em juventude e na sua inserção no trabalho é urgente, assim como pensar nas várias demandas concretas. Partindo das discussões que já foram feitas, do conhecimento acumulado, os jovens têm a tarefa de se assumirem como protagonistas desta reflexão. 
O problema da juventude não está isolado das dificuldades a que o conjunto da sociedade está sujeito. A luta pelo trabalho, como um dos direitos fundamentais do ser humano e central em sua realização, é uma tarefa importante. Mas é preciso ter em mente que este empenho deve servir à libertação do homem e não à sua exploração. 
O trabalho é central para o ser humano desde que seja concebido como força criadora de valor de uso, ou seja, de bens necessários para a realização do ser humano. 
Para que a juventude possa superar o estado de coisas vigente e tenha chance de garantir o direito ao trabalho, é importante estar organizada. Para conquistar seus objetivos de classe, será necessário se perceber dentro do cenário de luta de classes e identificar seus aliados. 
Neste sentido, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) tem estimulado a organização da juventude do campo e sua articulação com a juventude urbana. O Movimento entende que pode haver demandas especificas, mas o mais importante é universalizar as conquistas, para que estas garantam também as diversas demandas da classe trabalhadora. 
A juventude tem que estar presente de forma intensa na construção de uma proposta de novo projeto de sociedade. Sua participação não deve estar restrita à votação em um candidato na consulta dos representantes, mas se estender para a atuação política concreta na construção de um projeto popular para a classe trabalhadora. Para o MST, este projeto precisa ser socialista. 
Não há saída sem organização. Não há solução individual, apenas coletiva. O cerne do problema não é o indivíduo com baixa qualificação, mas sim a inexistência de postos de trabalho para todos, de educação pública de qualidade, de acesso aos direitos fundamentais ao ser humano. É preciso entender que, dentro do jogo capitalista, é assim. E é preciso construir uma alternativa. 
Reforma Agrária: por Justiça Social e Soberania Popular!!! 
 
Oséas Marques é membro da executiva estadual da juventude do PT e coordenador do setor de Juventude do MST da regional Baixo Sul 

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