Quase 25% de toda a área destinada à agricultura orgânica certificada no mundo encontra-se na América Latina. Em 2006, o comércio mundial de produtos orgânicos foi de R$ 65 bilhões. O Brasil contribuiu com cerca de R$ 500 milhões, sendo 70% para exportação e 30% para o mercado interno. Esse universo esteve representado na V Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária, realizado no Rio de janeiro.
Por Clarissa Pont
De 26 a 30 de novembro, quem protagoniza o Brasil Rural Contemporâneo reuniu-se no Rio de Janeiro, na V Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária. É a maior exposição e venda de produtos da agricultura familiar brasileira e uma oportunidade para conhecer o universo formado por 4,1 milhões de propriedades que produzem 70% dos alimentos que estão diariamente na mesa dos brasileiros. Com a Marina da Glória como cenário, 550 grupos de produtores expuseram e comercializaram seus produtos em 464 estandes que ocuparam 25 mil metros quadrados.“Estamos aqui para divulgar a agricultura familiar e o consumo de orgânicos. Temos um público cativo, mas queremos atingir quem ainda não conhece ou não consume os produtos das pequenas propriedades. Nenhuma máquina substitui a minúcia da mão humana. Os morangos que produzidos são separados um a um para, depois, serem transformados em compotas, geléias e na famosa morangada”, explica Marc Ferrez Weinberg, engenheiro agrônomo que mantém, junto com a esposa, a produção de diversas frutas orgânicas em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Weinberg sabe que é a agricultura familiar a responsável pela produção da maior parte dos alimentos consumidos pelos brasileiros. Quase 25% de toda a área destinada à agricultura orgânica certificada no mundo encontra-se na América Latina. Dentre os países mais ativos estão a Argentina, o Brasil e o Uruguai. No ano de 2006, o comércio mundial de produtos orgânicos foi de R$ 65 bilhões. O Brasil contribuiu com cerca de R$ 500 milhões, sendo 70% para exportação e 30% para o mercado interno.Seu Francisco, de Cananéia, litoral de São Paulo, produz ostras de mangue com diversas famílias quilombolas. A iguaria é procurada em todos os restaurantes do litoral paulista, mas o verdadeiro valor de cada ostra está na conservação do mangue e na geração de trabalho e renda para as famílias quilombolas da região. “O mais importante é que estamos protegendo o mangue, nossa única riqueza natural. A comunidade, até pouco tempo, não fazia o manejo sustentável na produção de ostras. Hoje, sabemos que ali está o nosso sustento e a preservação dele para os nossos filhos”.A Cooperostra nasceu com esta meta: tirar da clandestinidade os coletores de ostras de Cananéia e oferecer um plano de manejo sustentável. A cooperativa existe desde 1997 e hoje conta com 43 cooperados. Os produtos têm certificado do Serviço Nacional de Inspeção Federal (SIF), emitido pelo Ministério da Agricultura. Vindas até o Rio de Janeiro de lugares mais distantes, as mulheres da região de Mostardas, Rio Grande do Sul, trouxeram à Feira o artesanato com lã de ovelha, fonte de renda para três grupos remanescentes de quilombolas. As técnicas repassadas de geração em geração dão origem a fios, tapetes, acolchoados, boinas e mantas. A atividade representa um incremento de aproximadamente 10% na renda das famílias. O artesanato complementa a renda da principal atividade econômica das comunidades, a agricultura. “Tenho mais um trabalho, mas não deixei de cuidar da roça”, explica a artesã Enilda Maria Gonçalves da Costa, que, ao lado do marido, cuida da plantação de cebola, batata e feijão, vendidos em feiras na região de Mostardas, e ainda produz farinha de milho e doces. Essas e muitas outras surpresas da agricultura familiar brasileira foram expostas em estandes individuais e coletivos, distribuídos em cinco ambientes que reproduzem estilos e características das regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste, Sudeste e Sul. A Marina da Glória também recebeu cinco ilhas temáticas formadas por estandes coletivos que reuniram de oito a 20 expositores. As ilhas são compostas pelas praças dos Orgânicos, da Biodiversidade, do Artesanato, da Cachaça, uma das mais disputadas, e do Biodiesel. A V Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária foi realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), com patrocínio da Caixa Econômica Federal, do Banco do Nordeste, do Banco do Brasil, do BNDES, da Petrobras, da Eletrobrás, do Sebrae, da Abimaq, da Anfavea, da Fundação Banco do Brasil e da Ubrabio. Contou também com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro; da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro; e do Instituto Latinoamerica para o Desenvolvimento da Educação, Ciência, Arte e Cultura; e da Fundação Universitária de Brasília.
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