Por Amanda Cieglinski
Brasília - Em um ranking elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para monitorar o cumprimento de metas pelos países para melhorar a educação, o Brasil ocupa a 80ª posição em uma lista de 129 países estudados. Fica atrás de países latino-americanos como Paraguai, Venezuela e Argentina, além de Kwait, Azerbaijão, Panamá e outros. O Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos foi lançado hoje (25), em Genebra, pela instituição.
O compromisso Educação Para Todos, firmado durante a Conferência Mundial de Educação em Dacar, no ano 2000, estabelece metas que devem ser cumpridas pelos países até 2015. Entre elas estão expandir e melhorar a educação na primeira infância, garantir ensino de qualidade e melhorar em 50% as taxas de alfabetização de adultos. Segundo o relatório, o Brasil está no grupo dos países intermediários que caminham para atingir as metas. Entres os países da América Latina e Caribe, Argentina, México e Uruguai estão no grupo "perto de cumprir as metas".
Entre os problemas do Brasil, o relatório destaca as altas taxas de reprovação, a evasão escolar, o analfabetismo e o baixo desempenho dos alunos brasileiros em avaliações internacionais. “A América Latina e o Caribe são responsáveis por 3,5% das crianças do mundo inteiro que estão fora da escola. O Brasil é o único país com mais de 500 mil crianças fora da escola”, aponta o estudo. Todavia, o relatório afirma que esse problema não impedirá o país de cumprir as metas até 2015.
“Acho que tivemos evolução e vamos cumprir as metas. Nós temos hoje um Plano de Desenvolvimento da Educação [PDE] que é muito estruturado e que tem inclusive suas próprias metas. A situação está melhorando”, avaliou a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar.
O estudo da Unesco aponta que em 2006, o percentual de alunos repetentes na região da América Latina e Caribe era de 4,1%. No Brasil, classificado como o segundo pior do mundo nessa questão, a taxa é quatro vezes maior: 18,7%. Perde apenas para o Suriname. Para Pilar, os altos índices não são conseqüência da baixa da qualidade do ensino, mas da cultura da reprovação.
“Ainda existe no Brasil a mentalidade de que reprovar garante a aprendizagem. As pesquisas mostram que, além de não garantir a aprendizagem, ela estimula a evasão. Mas toda vez que um gestor público tenta mudar essa lógica, ele é muito oprimido pelo senso comum de que reprovar é bom. O Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] coloca essa difícil equação para os gestores, porque força a melhoria da aprendizagem com a redução da reprovação, diz.
Ao comparar o desempenho de estudantes no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o relatório destaca que o desempenho dos brasileiros e peruanos é semelhante ao dos 20% piores alunos da França e dos Estados Unidos. “Mais de 60% dos estudantes brasileiros, contra menos de 10% do Canadá e Finlândia, tiraram notas abaixo do nível um, o pior do ranking do Pisa”, compara o estudo.
“Se a gente, durante século, não colocou a educação como prioridade pública, é claro que o nosso resultado não será igual a dos países que priorizam a educação há 300 anos. Tudo isso é resultado do descaso com a educação pública, só de 1988 pra cá nós tivemos um foco maior para educação. O PDE articula os governos em um programa de médio e longo prazo para garantir uma maior qualidade, mas a gente não consegue mudar a história de 500 anos em um ano”, defende Pilar.
Essa edição do relatório está focada na questão das desigualdade de oportunidades em educação, seja dentro de um mesmo país ou em nível internacional. “A incapacidade de governos do mundo inteiro de combater profundas e persistentes desigualdades na educação condena milhões de crianças a uma vida de pobreza e de oportunidades reduzidas”, afirma o texto.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
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